Identidades
Por fim deixarei de existir,
Num destes dias iguais,
Deixarei de pensar e sentir,
Incluirei apenas manadas de animais.
Tão só me sinto,
E tão acompanhado,
Sucumbirei pressinto,
Mas tão desamparado.
Dias inteiros de desespero,
Tardes de sufocar o coração,
Noites a soluçar traição,
Manhãs de acordar tão áspero.
A mesquinhez das pessoas,
Associada à sua ignorância,
Distorce a melodia que entoas,
Já só te identifico pela tua fragrância.
Vem e salva-me,
Se ainda tiver cura,
Enluta-me,
Se não estiveres à altura.
Sou eu apenas,
De que estão à espera,
Não tenho escamas, não tenho penas,
Sou de carne e osso e alma austera.
Queriam-me fútil,
Queriam-me boneco,
Mas eu quero ser inútil,
E passar por sem tecto.
Lx, 17-11-1995