Identidades

Por fim deixarei de existir,

Num destes dias iguais,

Deixarei de pensar e sentir,

Incluirei apenas manadas de animais.

Tão só me sinto,

E tão acompanhado,

Sucumbirei pressinto,

Mas tão desamparado.

Dias inteiros de desespero,

Tardes de sufocar o coração,

Noites a soluçar traição,

Manhãs de acordar tão áspero.

A mesquinhez das pessoas,

Associada à sua ignorância,

Distorce a melodia que entoas,

Já só te identifico pela tua fragrância.

Vem e salva-me,

Se ainda tiver cura,

Enluta-me,

Se não estiveres à altura.

Sou eu apenas,

De que estão à espera,

Não tenho escamas, não tenho penas,

Sou de carne e osso e alma austera.

Queriam-me fútil,

Queriam-me boneco,

Mas eu quero ser inútil,

E passar por sem tecto.

Lx, 17-11-1995

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 13/06/2014
Código do texto: T4843487
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