CORPO AO SOL
Meu corpo deita-se ao sol, com a ramagem
Aleitada e esquecida nos aclives da vida
Aqueço-me e deixo que me dourem os pelos
Pareço um musgo redivivo na paisagem infinda
A linha da tarde voa, a natureza desperta, tudo ama
Mas meu ser este intruso por entre os arbustos
Repousa sem notar os afagos da bruma serpenteando
O alto da encosta, os vales de pedra e seus segredos
Minhas narinas se abrem e se fecham, estou vivo
Neste oceano de ar e luz estonteantes que me rodeiam
Sou um ser estranho como uma pequena tatuagem
Desenhada no dorso da terra, ao sabor do tempo
Porém nada existe por acaso, tudo tem um sentido
Assim a solidão existe para que a alma se purifique
Ervas brotam para ocultarem os desertos dos olhos
E a vida usa o truque da semente para se perpetuar
Enquanto durmo, o tempo corrosivo segue mudando
As superfícies de todas as coisas e dos homens
Estourando favas deixando cair as sementes
No eterno ciclo que entremeia a vida e a morte!