CIÊNCIA DESCONHECIDA
Bem, foi tudo em vão,
Estou de volta,
Sem sucesso tentei,
Consecutivas vezes,
Romper com o circuito,
Invisível que nos une,
Das tuas coincidências,
Da mágica dos teus sinais,
Do poder da tua imagem,
A força da tua voz.
Que de inocentes desavenças,
De palavras duras,
longínquas.
No silêncio da noite
Ansioso ainda eu me encolhia,
Já sentindo o próximo inesperado golpe.
Em vão tentei não conhecer-te,
Não nota-la,
Mas via,
Como tudo se coordenava,
As pessoas, as coisas
Vinham e aconteciam,
E eu observando apenas disfarçava,
Continha meus gestos e palavras,
Evitando amizade inoportuna.
Pois o sentimento já me dominava.
Por completo.
Procurei esconder-te,
Afogar-te em sombras,
Em receios e audácias;
Perdendo à fé, até buscando,
Em dias de desespero,
Sentir-me soberano
E assim menosprezado,
Sentir-me imenso,
O ônus e o logos,
Magnânimo e exato.
Sentir-me o único mistério do mundo,
Embora eu soubesse,
Que o real mistério que acontecia eras tu.
E inventava fugas para esquecer-te,
E de uma taça a outra,
Minha mente girava,
E então tudo se misturara,
Lei universal que a razão destrói,
Deus o único caminho,
A soberana essência do real,
Criadora do bem e do mal,
E tudo anterior a tudo,
E esse calor em querer conhecer tudo,
Não denota a essa minha falta de vontade,
De saber do acaso da providência,
Mitos e superstições,
Essa inútil metafísica,
Esses meus medos infundados,
Tão infantis...
Essa loucura,
Esses meus traumas não superados,
Proventos de um garoto aturdido,
De educação falha de espirito debilitado,
E vida solitária,
Esses meus mais variados complexos,
E contradições ridículas,
Que provavelmente Freud explicaria
Em duas linhas,
Oh, isso existe ou não,
Isso é tudo ou não,
A vida,
Será só isso?
E essa desolação,
De não saber confessar-me,
Detenho-me num quarto a ler,
Numerosos sábios e filósofos,
A tentar entender esse destino sem ti.
Junto a desgraça e decadência,
Dos risos da ironia das pessoas
Desta rua,
E de todos os lugares que moramos,
E viver esse dia a dia sem ti.
É nesta mesma rua,
Que escuto o amor me chamar,
E a alegria correr a tarde
Descalça pelas calçadas,
Nela que vejo meus afazeres e obrigações,
Andarem apressadas
Junto com a dos outros.
E nessas ruas observo também,
De soslaio,
Emergir rostos animados,
Serenos e graciosos,
Os mesmos que arquitetam,
As próximas catástrofes sociais.
É nesta mesma rua que pessoas como eu, Vitimas.
Observa todos os nossos sonhos,
Passarem destroçados.
Bem, foi tudo em vão,
Aqui então permaneço,
Encoberto de vergonha
E tristes versos mau feitos,
E assim tentar continuar vivendo,
Continuar morrendo,
Perdendo-me de mim e todos.
É essa a ciência desconhecida.