À MERDA COM A FILOSOFIA
Ler, pensar,
alimentar-se da, e com, a palavra,
sem demasiadas preocupações
com os inevitável erros
das conjecturas;
existir,
ou fazer com que
as coisas nos existam,
conforme nossos abnormais
modos de ver;
voar sem asas
por inaugurados céus fulgurais
e beijar a lama suja
das quedas;
assoberbar-se
com o verbo volátil em haste
e calar-se ajoelhado
perante o sacro;
manter uma família,
casa, carro e amigos ideais,
sem se deixar levar
– além de um breve suspiro ao rostro rubro –
pelas dores dos que estão
no cu do mundo;
trabalhar, sim, claro,
que só com grana se pode
freudianizar melhor
– à calada das cernientes sombras,
ou entre as paredes fechadas
e um quarto moteleiro –,
queimando e queimando-se
com desejos, perjuras
e porras.
Quer saber de uma coisa?
Às favas com a filosofia,
que dos sapiens são – e a ele servem –
todas as imagens e coisas
do desalinho;
e pelas trilhas da vida,
enfim, tudo acaba mesmo
é nos servindo, inexoravelmente,
às ominosas querências
do senciente ego.
Péricles Alves de Oliveira