HORAS INVASIVAS
Oh, pensamentos,
Por que me invadem,
Nessa hora?
Já não bastasse,
A solitária madrugada,
O sinuoso vento,
Tocando as folhas,
O corpo a alma,
Solvendo dos meus sentidos,
Dos meus poros,
Substância invisível,
Que desconheço,
Mas que me queima o corpo,
Em febre vulcânica,
Já não bastasse tudo isso,
Mesmo assim me invades,
E me invades de forma turbulenta,
Com as formas dela,
Olhar enigmático, revelador,
Pele alva, negros cabelos,
Seios, braços piedosos,
Estendidos a me abraçar.
Suas mãos brancas
A percorrer minha face,
Inflando-me o peito
Com ávidos suspiros,
Enchendo-me de acalanto,
De desejos recalcados,
Escondidos,
De corpos abraçados,
De beijos mordidos,
Pouco antes do sol nascer.
Ah, vai-te pensamentos,
Deixe-me com minha
Poesia solitária,
Não me tortures,
Não contorça assim minha'lma,
Como se tomasse
Um vinho forte.