Aquela vertente de rio

que nem cabia nas paredes suadas

que saltava aos olhos das janelas calmas

que gotejava no nosso teto

que pululava em nossa calçada!

que o vento sorria e acenava...

que o pensamento me impelia,

que para ti ele me roubava...

Aquela vertente de rio,

que sorvíamos ao fim da tarde,

que bolinávamos ao romper d´aurora,

que lambia os nossos sonhos,

que a querência não tinha hora,

que escorria por nossas pernas,

que a pressa ficava pra outrora!

Aquela vertente de rio,

que nos chamava pra vadiar

que a impaciência levou embora

que invadia meus alvos dentes

que só de lembrar... minha face cora!

Aquela vertente de rio secou,

e fez as noites excruciantes

e fez minha alma triste,

e ainda hoje ela busca,

e ainda hoje ela chora!

e fez o barco perder-se em mar bravo,

e fez-se um silêncio tão dissonante,

e deixou-nos na vida um hiato,

e fez-nos do destino escravos...

e fez perder-nos como amantes!

Aquela vertente de rio secou,

e encarcerou-nos à eternidade,

e deixou um travo e um vazio,

e algemou-nos atrás das grades,

e rachou-nos com seu estio,

e capeou de nós a felicidade!

Aquela vertente de rio,

lasco, intrínseco, sozinho, fez motim em minha vida

largou-me em Sol a pino

secou a minha saudade, raptou meu velho-menino!

Nalva Sol
Enviado por Nalva Sol em 22/04/2014
Reeditado em 27/04/2014
Código do texto: T4779090
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