A poesia ama as gralhas.
A prosa odeia as gralhas.
A poesia ama os diferentes.
A prosa execra-os.
Dispensa-lhes a indiferença e 
o escárnio.

A poesia torna o toque uma dança.
A prosa torna o toque uma pantomima.

A poesia prestigia as despedidas.
A prosa lhe põe um ponto final, seco e fatal.

A poesia romantiza o entardecer.
A prosa nos lembra da proximidade da morte.
São antagônicas.
Paradoxais.
Uma narra e rima.
Outra imagina e organiza.

Uma tem harmonia.
A outra ritmo e dinamismo.
Uma conhece a piedade.
A outra apenas a ironia.

A poesia persegue as essências.
A prosa as encarcera em vidros.
Pequenos.
Bem pequeninos.

Para poesia uma só gota salva.
Para a prosa, a gota é quase nada.
É nadica...
Há mais vazio na prosa do que
na poesia.

A poesia conhece o infinito.
E a prosa as linhas narrativas
da metalinguagem contemporânea.

Dai-me poesia.
Para eu embriagar a prosa
de algum lirismo suportável.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/04/2014
Reeditado em 09/04/2014
Código do texto: T4762784
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