QUANTUM DE VIDA
Se eu morresse agora
Não saberia estar morrendo, é claro
Pois minha vida é infinita
Só tem medo da morte
Quem tem medo da vida
Meu tempo não é o do movimento
Que leva ao desmanche de meu corpo
Mas aquele em que sou livre
Preciso me cuidar da ideologia dos escravos
Devo me esquecer dos seus relógios
Meu tempo não é curto, como dizem
Pois eu vivo em pensamento
Eu escrevo para a eternidade
Mas sei que tenho estorvos
Então nos meus momentos solitários
Aproveito para me juntar aos outros
Quem diz jovem, quem diz velho
Não merece meus ouvidos
Eu não preciso dos gemidos da matéria
Ela quer me arrastar para os medos
Mas se meus medos cuidarem de mim
Também serei escravo do relógio
Mais coerente então seria
Abandonar de vez a poesia
E mergulhar na gritaria dos negócios
Não, eu quero para mim meu tempo
Basta a parte mínima que tiro
Para a tal da sobrevivência
Estar morto é esquecer de si
Nas esquinas da matéria
Catando objetos sem valor
Eu quero mesmo é catar pedaços de mim
Não é o relógio que me dá meu tempo
O tamanho da minha vida vem
Da quantidade de pedaços que junto
Para formar o mosaico que eu sou