A cena da sina em cinco tempos

Parte I

Deixei um abraço pro lago Paranoá,

Fim de tarde dos mais belos,

E o sol batendo o ponto pra descansar.

Parte II

Se não fosse a paixão, simples,

Teria outro nome:

- Fez-se atração ao limite do suportável.

Mais uma vez grito! E o grito sai assim:

- Meio confuso, meio dominado.

É a saudade, é o deslumbre;

É o lume da liberdade...

São pontos, luzes da minha cidade;

Vejo o mar com imponência e atitude.

Olho pela janela do avião e concluo:

- Será uma enorme coincidência de também meu corpo físico estar nas nuvens?

Não há tempestade que me atinja;

Não há cor ou mancha alguma que me tinja.

Hoje - agora - amanhã...

Sou camaleão!

Parte III

Olhos cheios d’água,

É noite e as luzes refletem na minha íris.

Vejo minha terra, minha mãe

Desse filho adotivo, birrento,

Que amamentou em seu seio,

(ama de leite)

Banhou-se no seu mar

E no seu sol aqueceu-se

De um acaloro que vem de dentro

Expressivo – decisivo – poetar.

Parte IV

Agora é êxtase de lisonjeio e satisfação;

Pus a mão na arte, na autoridade de uma academia;

Animo de energia – passo a frente – mira ativa.

Fiquei maravilhado aos pés de Iguaba...

E não me gabo desse flerte;

Como diria Caê:

“Adoro ver-te...”.

Parte V

No retorno, e torno a teclar nessa tecla;

Abraço deuses, mestres e magos.

Ponho-me à mercê da alegria,

E a vida me fecha em afagos.

Novamente sobre outros lagos

E largo sorriso ecoando.

Saudade da casa e entornos,

Contornos de tempos mais calmos.

Saudade dos bons e maus que com o sol faz a lua;

Saudade da música sua, e a língua dançante dos cães.

Quero a água gelada, as bocas recitando versos,

Novos escritos discretos e poças com estrelas nuas.

A nuvem negra se foi no horizonte,

Tempo que a fez merecer.

Meio termo, temor inteiro,

Do dilúvio que não irá acontecer.

Da sombra se faz um poeta

Da seta de mão/contramão.

Do sonho no rabo do cometa

Se meta, poeta hei de ser.

André Anlub®

(18/3/14)