Mergulho 


Aborto o meu próprio ser.
Medito às margens destas águas turvas.
As marolas me embalam os pensamentos.
Por instantes não tenho tormentos.

Uma cotovia canta ao largo.
Um pescador retorna da lida.
Um banco de areia me convida ao deleite.

O sol se põe ao longe.
Uma sombra se projeta de minha alma
Estende-se sobre a ponte deserta e alcança a curva do mundo.

Sinto uma mão a bater-me no ombro.
Viro-me e me vejo só.
Abro os braços e mergulho no vazio.

Sem sons,
Dores
Ou ruídos

Eu agora sou o rio,
A água,
A areia
E a dor do pescador sem peixe na mesa vazia...