PARTE DE MIM
Há um olhar a me perseguir
dentro de uma noite sem fim.
Caminho por entre árvores míticas,
suas folhas me cobrem.
Tenho mãos cálidas:
macia é a minha alma sem paixões.
Um dia alguém virá
e, eu sei, será de volta.
Na madrugada, a cama fria,
a solidão me agita o sono.
Aquele poema, aquela idéia de poema,
escapou da memória: onde estará?
Ninguém nunca conhecerá meu coração:
ele é apenas uma caixa de pesadelos.
Não revelo meus olhos.
Sob lentes escuras, há apenas trevas.
Meus pés estão atolados
na angústia de anteontem.
Sei o nome dele e ele me fere
com lembranças de dias azuis.
Ilustro a minha dor com cores realistas
e afundo nas tintas.
Um violão na rua: suas cordas gemem
pela volta do ente amado.
A vida espera o milagre de sua volta:
viverei por mil séculos sem fim.
Ele jamais me encontrará.
Estou escondida dentro de seu descaso.