Fotografia de © Ana Ferreira
"A espantosa realidade das cousas é a minha descoberta de todos os dias (...)
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."
(Alberto Caeiro, in A Espantosa Realidade das Cousas)
DA VIDA QUE SURGE EM MEIO À ADVERSIDADE
É preciso um pouco de sensibilidade para observar as flores
que vicejam por entre as pedras da calçada,
como vida que surge, sem que ninguém tivesse plantado.
Deveria o coração de concreto do homem, também,
ter fendas, nas quais um breve sopro de vento ou as aves
pudessem depositar sementes.
Talvez a humanidade passasse a entender melhor
a plenitude da vida e pudesse, então, vivê-la,
compartilhar suas cores, seu cheiro, sua forma,
não a sendo, mas sentindo-a... Sendo por ela, talvez.
Ana Flor do Lácio