"PROTO-SENDO"
O prospecto da tua face maligna
me embebeda, me vicia...
Sinto-me ardente e delirante e vazia
Vazia de formas e argumentos
Livre de estética e moral
Apenas um protótipo ambulante
Sou e sinto e penso.
Ainda sou ' proto'
Protozoário, proto-ciência, proto-homem
E apenas "proto-sendo" me reconheço
Embrionária, latente e embriagada
Bêbada de poesia, de amor, de vida!
E tua face maligna apenas me observa
Cheia de más intenções
Me esvazio, me encho de ' nada'.
Vou-me em nulidades desnecessárias!
E a necessidade, que se contrapõe
À liberdade me recompõe, compõe e põe
Num cenário deserto, em que sou a protagonista
E desempenho todos os papéis
Numa ideia solipsista!
Sou a necessidade de todas as necessidades
Necessidade de me ser, necessidade de amar
No entanto, ser-me não deveria ser um esforço
E, sim, algo espontâneo
Só que em meio a tantas superficialidades...
Ser-me profundamente é a explosão de uma estrela velha
Então, só quero dizer-te que não me sei
Vazia de formas e argumentos
Só reproduzo o que alguém já pensou...
Mas é o que verdadeiramente penso
Sou e sinto e penso
Mesmo não me sendo
Mesmo não me sabendo
Sendo e não sendo
Sabendo-me e não me sabendo
Num constante fluxo e refluxo.
Só quero me ser...
E teu olhar pérfido me segue!