Outubro
Quando o obscuro é mais claro
Que a matiz das cores
Quando o mau cheiro é mais faro
Do que o perfume das flores
Quando os amores são raros
Colecionamos os labores
Quando os sabores são caros
Degustamos as dores
Andamos sem achar o morto
Para chorarmos e enterrar
Navegamos sem encontrar o porto
Para nas tristezas ancorar
As ruas estão descalças
E nossos olhos sem esperanças
A brisa fria nos embaraça
E nos esvazia de lembranças
Para quem a saudade
É como o cachorro vadio
Que morde com o passar da idade
E a sobriedade do enfastio
Não temo mais as frases
Econômicas e seus calafrios
Temo, temo sim os gases
Eletrônicas de um estomago vazio
As lágrimas tem sido constantes
Molhando palavras desconexas
Nada soa como importante
Para uma mente perplexa
Calar, e ficar com os instantes
Esquecer de correr, o depressa
Estagnou, não vai adiante
Como aquele que regressa
Com os olhos dispersos e distantes
Por um sentimento permanente
Que no silêncio gritante
Ecoa nas paredes da mente.
Henrique Rodrigues Soares
Outubro 2013