MIRAGENS VAZANTES

Que foi
que me olhais
assim
tão reticentes?

Acaso achais
que eu não me vestiria
sublimes máscaras
para enredar palavras
e gestos
entre os destroços
sapiens;

ou que não gravitaria
em vossas órbitas
incautas?

Eu conheço as sombras
da concretude
violada
pelas vãs abstrações
neandertais:

tão infindas,
tão mágicas,
tão resplandecentes.

Mesmo assim,
eu também regozijo
faustas florescências,
por abnormidade
de nascença.

Eu também concebo
sonhos cândidos
e esperanças grávidas,

vomitando-me
no descampado
das imagens,

e mostrando
as inevitáveis quedas
recorrentes.

Eu sou tão puro
como vós vos dizeis ser,
e tão impuro como vós
vos negais ser:

finjo,
atuo,
inauguro.

Mas,
segredado dos aprazeres
aflorados,
não vos creio as alvas
nem as dádivas,

nem me as creio
de mim;

porque eu conheço
as sombras da concretude
violada,

e, no íntimo,
angustiadamente,

percebo-nos
na grande farsa,
a criar infinitos em
molduras de sal.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 19/12/2013
Reeditado em 19/12/2013
Código do texto: T4617524
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