MIRAGENS VAZANTES
Que foi
que me olhais
assim
tão reticentes?
Acaso achais
que eu não me vestiria
sublimes máscaras
para enredar palavras
e gestos
entre os destroços
sapiens;
ou que não gravitaria
em vossas órbitas
incautas?
Eu conheço as sombras
da concretude
violada
pelas vãs abstrações
neandertais:
tão infindas,
tão mágicas,
tão resplandecentes.
Mesmo assim,
eu também regozijo
faustas florescências,
por abnormidade
de nascença.
Eu também concebo
sonhos cândidos
e esperanças grávidas,
vomitando-me
no descampado
das imagens,
e mostrando
as inevitáveis quedas
recorrentes.
Eu sou tão puro
como vós vos dizeis ser,
e tão impuro como vós
vos negais ser:
finjo,
atuo,
inauguro.
Mas,
segredado dos aprazeres
aflorados,
não vos creio as alvas
nem as dádivas,
nem me as creio
de mim;
porque eu conheço
as sombras da concretude
violada,
e, no íntimo,
angustiadamente,
percebo-nos
na grande farsa,
a criar infinitos em
molduras de sal.
Péricles Alves de Oliveira