TUDO APETECE AO HOMEM
Apetece ao homem,
pássaro de nuvens e varais,
voar com asas que não há,
a transformar hiatos brancos
em texturas figuradas.
Apetece ao homem,
matraca de juncos e florais,
andar por telhados que não há,
a regozijar verbos voláteis
nos vazios das procelas.
Apetece ao homem,
barca de lumes e punhais,
navegar por mares que não há,
a ondular rotas geométricas
nos ventos dos ocasos.
Apetece ao homem,
jardineiro de sombras e catedrais,
crer em posteridades que não há,
a projetar vida e glória eterna
em paraísos de paz.
Tudo apetece ao homem,
fulge e fulgo neandertal,
que vive e morre
em obesidade mórbida,
em seus próprios chãos
de pedras raiadas.
Péricles Alves de Oliveira