Tarsila do Amaral
Corporeidade poética
Perguntou-se ao poeta: poesia tem corpo?
Disse o poeta, deixe-me pensar um pouco.
E se pôs a pensar...
Se do nada, tudo se cria
Se os olhos da alma
Revela a poesia,
Assim como a beleza do riso,
As lágrimas da dor,
A voz dos ausentes e,
Do indignado ecoa o grito,
A poesia tem rosto...
Se no coração do poeta,
Pulsam versos e,
Nas mãos do artista,
Letras fazem acrobacias,
Palavras dançam
Feito pés de bailarina,
Malabaristas...
Na corda bamba da vida,
A poesia é mais que fantasia...
Na loucura de seus devaneios
Diz o poeta,
A poesia tem sangue,
Eu sinto seu pulsar...
A poesia tem perfume,
Eu sinto seu cheiro,
Tem da carne, a fraqueza
Tem do amor, a força
Tem do sonho, o tempero
Tem do beijo, o sabor
Eu sinto seu gosto...
A poesia transcende o etéreo...
Já não se trata de delírio,
Também eu, creio...
A poesia se toca,
Na exuberância do seio,
No esvoaçar dos cabelos,
A poesia se sente,
Do pulsar do desejo,
Ao estremecer do gozo.
Então, pergunta o poeta: o que seria isto,
Se não, da poesia, o corpo?