Inquilino das ruas...
Perambulo a calçada às vezes invisível e as outras vezes também.
Como se eu pudesse discernir os fatos com mais vivacidade;
Dar vida ao que não tem e sentido ao inexistente...
Pedra, gelo, frieza... Coração humano...
Mas posso ainda ser o que de fato não pode ser demudado.
Sou mágico, sou bardo, sou caro... Poeta sou.
Poeta das calçadas das vielas dos becos sem saída...
Da parede sem cor dos rabiscos no chão
Das palavras ao vento do amor desmedido
Do sim e do não.
Aqui pinto quadros com uma só cor, mas com várias...
Assisto todos à busca de tudo que para mim é nada.
Ninguém me enxerga, mas ainda assim eu sou;
Sou e serei precisamente aquele que carece de um colo
De atenção, de tantas coisas que para muitos são nada, entretanto para mim é muito.
Minha estrada é a contramão do que buscas.
E assim vou me recompondo dia após dia...
Buscando ser não o que pretendo, mas o que o vento trás a meu favor.
Todos querem ser tudo, mas do tudo que todos querem ser eu apenas
Sou e serei:
Frio, calor, fome, solidão, tristeza, cansaço, desprezo...
Papelão, calçada, praça, chão...
Rua, morador...
Dela eu sou...