Indeterminante sujeito

Papéis escritos demais parecem não oferecer mais nenhum cantinho em branco para uma nova escrita. Páginas em branco não se jogam fora.

Do que adianta a fala? Certas coisas não precisam ser ditas. Cansaço! Perde-se a energia de querer falar ou escrever, e até mesmo de se lamentar.

O corpo responde por aquelas palavras que não conseguem ser verbalizadas quando não se tem mais forças de dizer.

Perturba-se mais do que se consegue entender, mas o sofrer parece não mais fazer sentido e o dizer, não mais querido.

Indiferentemente, continua. Continua com páginas amassadas, usadas e cheias de rabiscos. Não encontra lugar pra si. E talvez nem o tenha. Nem se quer.

Aparentemente, se contenta com ilusões de cantos brancos. Lamentavelmente, não se importa se há. Não por o sentimento ser maior, mas por ser indiferente a sua existência.

Descartam-se folhas rabiscadas para poder sobreviver com o fôlego que lhe resta. A dispneia aparece como a resposta letárgica de tentativas vãs. Desiste-se.

Palavras podem ser facas de pontas afiadas, mas não se mata um corpo morto.

Samilly Sampaio
Enviado por Samilly Sampaio em 05/11/2013
Reeditado em 05/11/2013
Código do texto: T4557536
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