Mergulho no ser
Quem somos realmente?
Uma paisagem noturna?
Uma noite londrina de inverno?
Onde nos escondemos das vistas indiscretas
Por entre o nevoeiro
Suavizando a dureza de nosso esqueleto gótico?
Ou seremos uma paisagem tropical
De cores fortes, tórridos e suados corpos?
Quem sabe seríamos uma verde floresta
Como um tapete de veludo visto do alto?
Será que não representaríamos
Um caótico cinza-metálico de um aglomerado urbano
Suprimindo de quem nos observa
A capacidade de enxergar por entre nossas vielas
Becos, escadas, recantos?
Ou, como florestas, nós cobramos alto
O preço de uma exploração de nossas entranhas?
Obrigando a quem nos queira conhecer
A aprender conviver com nossos perigos
Dando um preço por cada ângulo da beleza que possamos ter?
Emitindo sons estranhos, gritos inumanos,
Odores silvestres...
Sombras indecifráveis ao cair da noite
Exalando uma solidão constante e auto-suficiente
Mas tão frágil como qualquer pessoa
Seremos mesmo um sistema tão complexo?
Onde, por mais que repitamos um padrão
Ela quase nunca seja detectável
Fazendo perderem-se quem se aventure
Como num mistério divino ainda não revelado?
A simplicidade aparente é enganadora
E são esses mistérios que distinguem as pessoas
Cidades são parecidas
Paisagens podem ser semelhantes
Florestas são florestas, mas, ao mergulhar-se
Quase sempre descobrimos não os conhecer.