REFRATÁRIOS GESTOS
O mesmo oceano
em que todos somos vários
e também um só
Ora ondas
ora a mesma água que nos faz iguais
Os mesmos medos
as memas amarras
olham para nós
pelos séculos
Caminham com nossos pés
todos que já nos precederam
carnes vencidas
vontades
nunca saciadas
amores tristes
Morrendo em corpos velhos
queríamos a felicidade
e ela nos escapa sempre
borboleta frágil
Ah, e nós morando
em velhos corpos
que nos acusam
pela manhã no espelho
olhos que interrogam
milhares de olhos
por dentro da nossa dúvida
Multidões caminhando
com os nossos pés
gritando noites de insônia
fantasmas que habitam
a nossa cama
Por dentro da folha
o verme traça
trajetória calada
e no meu corpo
os pensamentos
regurgitam venenos antigos
No mesmo mar somos água
e traição
No mesmo gesto
braços que aconchegam
depois dizem não
E a tua estranheza me diz
que não me reconheceu
nesta multidão desarvorada
em que nos tornamos
Seres de refratários gestos
a mesma água turva
do mesmo mar
agora mais sós do que nunca!