REFRATÁRIOS GESTOS

O mesmo oceano

em que todos somos vários

e também um só

Ora ondas

ora a mesma água que nos faz iguais

Os mesmos medos

as memas amarras

olham para nós

pelos séculos

Caminham com nossos pés

todos que já nos precederam

carnes vencidas

vontades

nunca saciadas

amores tristes

Morrendo em corpos velhos

queríamos a felicidade

e ela nos escapa sempre

borboleta frágil

Ah, e nós morando

em velhos corpos

que nos acusam

pela manhã no espelho

olhos que interrogam

milhares de olhos

por dentro da nossa dúvida

Multidões caminhando

com os nossos pés

gritando noites de insônia

fantasmas que habitam

a nossa cama

Por dentro da folha

o verme traça

trajetória calada

e no meu corpo

os pensamentos

regurgitam venenos antigos

No mesmo mar somos água

e traição

No mesmo gesto

braços que aconchegam

depois dizem não

E a tua estranheza me diz

que não me reconheceu

nesta multidão desarvorada

em que nos tornamos

Seres de refratários gestos

a mesma água turva

do mesmo mar

agora mais sós do que nunca!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 30/10/2013
Código do texto: T4548102
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