ODE À TERCEIRA MARGEM
Nossos tempos já foram
diferentes.
Havia o cândido
e o fausto
nos mesmos verbos
regozijados.
Havia estranhas
máscaras
em personificações
incautas,
e singelos sonhos
em esperanças
tênues.
Havia chuvas
de fogo
transpiradas de nossos
rancores,
e enlaces dádivos
versejados de nossas
utopias.
Havia geleiras
abissais
em que nos
engerelamos,
e cafés-concerto
sinfônicos
aos quais nos
abrigamos.
Havia nesse desalinho
todo,
uma dor que nos era
intermitente,
pelo amor suicida com que
nos enlaçamos
e que nos fazia deixar
a vida,
deixando de
nos viver.
Se foi escolha
ou fraqueza
que nos destroçou,
não sei.
Sei que, após longo
tempo,
não resistimos a nossas
insânias.
Mas, de tudo que já vi
de ti,
e contigo vivi de maneiras
diversas,
nada dói mais que te ver
agora,
à margem destroçada
do rio,
com as turvas águas
acalmadas
pelo enfermo que corre
no veio,
e não poder estar
contigo
quando mais precisas
de mim.
Péricles Alves de Oliveira