Escuro
Pegou suas contas
Sentado à sala
Olhou pela janela
Olhou o nada
Levantou-se vagarosamente
Caminhou rumo seu quarto
Passou pela cozinha escura
Na beira da cama deixou o sapato
Ligou seu computador empoeirado
Que ficava logo no canto esquerdo
Pensou por alguns minutos
Calado, preocupado, cheio de medo
Só ouvia o silêncio ao seu redor
A pia pingando ao fundo
O computador ligado à frente
Isolado em seu próprio mundo
Olhou seus livros na estante
Reparou sua cama bagunçada
Voltou para a sala em passos lentos
Conferiu se a porta estava trancada
Seguiu para a cozinha
Preferiu o escuro
Tomou um copo d'água
Sentiu no peito um furo
Retornou ao quarto
Sentou-se na cama
Sentiu-se sozinho
Sentiu-se na lama
Lembrou das obrigações
Do árduo dia seguinte
Deitou-se cansado
O travesseiro era seu ouvinte
Fechou seus olhos cansados
Mas naquela noite não dormiu
No dia seguinte, não acordou
No dia seguinte, ninguém o viu