O ESCAFANDRO E A BORBOLETA*

A mão é o consciente que vaza a armadura.
O arcabouço do escafandro que aprisiona a alma.
Qual alma se encerra nas grades de um corpo?
Tal corpo aprisiona os sonhos e os jardins.
Os jardins são sonhos que a mão busca tocar
A mão que rega, a mão que provê.
Que socorre e não vê.
Livre só olhos de ver, sem pernas de andar
Presenciar e não ser, querer e não poder.
Pede-lhe o Anjo: transfira essa dor a mim...

Além das flores está o jardim,
Que enfraquece a dor, que tinge a flor,
Que mitiga-lhe do coração o ardor
De estar encerrado
Seus dias marcados
Por tal estupor.

Sua prisão é algo sem fim.
Só o consolo de Deus enviando
Ao seu corpo doando
Lenitivo e esperança
E a presença e constância
Dessa que lhe dá o amor.

A borboleta é o subconsciente,
Ainda livre e onisciente
Recorta o azul e oferece a cor.
Em meio aos "bips" do hospital
Jaz não um homem, mas um vegetal...
A escrita: letra por letra, do vegetal que respira,
Pensa. Mas o corpo não move...
Lhe correm lágrimas do olho que vira
Quente filete líquido, ao Anjo comove!
Vegeta na maca e, a cada piscada, a Borboleta
Pousa e anota uma letra,
Uma a uma, que sua mente requer...
As piscadas são mensagens
Que o Anjo-Mulher
Codificou e transformou em saber.
Seu imenso amor lhe devota
Mais uma, centenas, milhares: sofre e anota.
Ela agora o faz repousar, afaga-o com calma,
Porque em obra fizeram acontecer
O que dizia cada piscada de uma alma.
Está pronto o livro das palavras mais lindas
Do que parecia impossível ser obra finda.
Anjo de Deus tocai a trombeta!
Que jamais se viu um espírito encerrado oferecer: 
"O ESCAFANDRO E A BORBOLETA"


(* Poema em louvor ao livro e ao filme verídicos "O Escafandro e A Borboleta" onde relata a história de um rapaz totalmente paralizado em estado vegetativo, tendo só os olhos movendo por meio de piscadas. Uma jovem escritora construiu um "código" com as piscadas. Se  postou ao lado dele e escreveram um livro: o escafandro era seu estado de total paralesia: sua alma, mente pensante, encerrada em seu corpo; a borboleta eram suas idéias que voavam de seu pensamento cerebral ao papel da jovem, o "Anjo-Mulher")

*Mauro Martins Santos - Membro fundador da AGL - Academia Guaçuana de Letras -

 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 30/09/2013
Reeditado em 07/10/2013
Código do texto: T4504213
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