A Poesia me comeu
Fui atacado pela poesia...
Foi naquela noite
Na rua dos Guaranis
Sob as sombras das árvores
Projetada pelas luzes dos postes
A poesia me deu duas facadas
Uma pelo bem outra pelo mal
E um soco bem na cara
Arrancando-me um dente
Fui estuprado pela poesia
Rasgou minha camisa
Arrancou-me as calças
E me deitou na calçada
A lua lá em cima reluzia sem piedade
Mas eu não sentia a maldade
A poesia me possuía
Consumia-me por dentro
Injetando o veneno
Da criação
Fui esquartejado pela poesia
Sentia um desconexo
De todos meus membros
Porém tudo começou a fazer sentido
Antes daquilo tudo
A vida era triste
E cheia de razões
Que minha alma descontentava
E hoje trago a sua cicatriz
Bem no coração pulsante
Fui acordado pela poesia
Ainda bem que não era tarde
A poesia cantou de galo
Bateu na minha porta
Fez café na minha cozinha
A poesia armou rede na varanda
Assoviou para os pássaros
Chamou todos os deuses
E hoje me enche de mimos
Enche-me de amores
Acalenta-me as dores