A Poesia me comeu

Fui atacado pela poesia...

Foi naquela noite

Na rua dos Guaranis

Sob as sombras das árvores

Projetada pelas luzes dos postes

A poesia me deu duas facadas

Uma pelo bem outra pelo mal

E um soco bem na cara

Arrancando-me um dente

Fui estuprado pela poesia

Rasgou minha camisa

Arrancou-me as calças

E me deitou na calçada

A lua lá em cima reluzia sem piedade

Mas eu não sentia a maldade

A poesia me possuía

Consumia-me por dentro

Injetando o veneno

Da criação

Fui esquartejado pela poesia

Sentia um desconexo

De todos meus membros

Porém tudo começou a fazer sentido

Antes daquilo tudo

A vida era triste

E cheia de razões

Que minha alma descontentava

E hoje trago a sua cicatriz

Bem no coração pulsante

Fui acordado pela poesia

Ainda bem que não era tarde

A poesia cantou de galo

Bateu na minha porta

Fez café na minha cozinha

A poesia armou rede na varanda

Assoviou para os pássaros

Chamou todos os deuses

E hoje me enche de mimos

Enche-me de amores

Acalenta-me as dores

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 23/09/2013
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