Ao Aracati nessa primavera
Aracati, Aracati, ao lado do rio
No meio das várzeas em setembro.
Onde o vento levanta a poeira do barro
Sacolas de plástico, cheiro de lixeira...
Vento frenético do mar, de um barco quebrado
Louco, devairado que vai aos confins do Ceará
Fazendo dançar o morto capim seco do ano passado...
Nesse tempo, confesso, minha cidade, nada me seduz
Nem mesmo o teu constante brilho, ó terra da luz.
O descalabro atmosférico é homérico
Tudo é nu, magro e crú...
Já não há mais utopia, nem desejo quimérico...
Foi-se o tempo das salinas
Dos barcos à vela no Jaguaribe
Da carnaúba alguém se admira?
Onde está a poesia de um cabaré de Alzira?!
Se falo o que sinto, não minto
E não me importo se em voce meu conterrâneo
algo lhe inspira
Pode até me apelidar
Do que lhe dita a lira!!!
Ah velha Aracati, antiga vila de porto e de barcos, de igrejas brancas...
Antes mesmo de 1700
Revejo batizados, leilões casamentos,
Pela grande rua: escuto pianos em finais de anos...
Junto ao lamento de negros castigados
Em baixo de teus sobrados
Num tempo sem marés calmas
Também sinto o suplício da tua cruz das almas...
Até pareço, mas em verdade não sou
Um fantasmagórico poeta do terror
Mas creiam amigos numa frase que é minha
Ando por terras onde Adolfo caminhou e Caminha
Mas sei que meu Aracati fala é muito de amor
Mesmo sob um sol desse tempo-torpor
Todavia, espero a legria, que me traz o inverno
Uma pena mais leve e adjetivo mais terno.