DIA
Ela levantou para mais um dia
O último gole de vitimização
Enjaulada nos seus sentimentos tão intensos
Ela olhou ao redor... Uma casa, não um lar
Havia luz penetrando forçosamente através das persianas
Irrigando, como um oásis, o gélido reino do seu infortunado destino
Essas manchas na parede, eram tudo sobre ela?
Corpos e lembranças, dores e abismo... Era tudo sobre ela?
Um toque ao longe, um abafado choro eletrônico... Seu celular
A virtualidade velada em polifônicos e abstratos chamados
Distanciando quem já pouco tem ou sabe sobre o abraço
... Esses estranhos rostos bonitos na tela... A irritante sensação de vazio
Um livro jogado no canto do quarto
Uma música triste pra adornar com sentido todas as lágrimas ao chão
Ela era amiga de todos os seus amigos, mas esses amigos não eram amigos seus
Restava essa folha meio amassada, perfeitamente ajustável ao tipo de dor que precisava externar
O despertador, constrangido pela ineficácia de seus serviços, ainda grita desesperançoso
Tantos pensamentos num fluxo quase infinito e absurdamente catastrófico
... E quem vai abraça-la nessa manhã morna e dizer: Hey, vai ficar tudo bem?!
Alguns minutos longe de seus pais, milhares de anos distanciada pelo orgulho
Sempre um bom disco do Pink Floyd girando sobre a pick-up herdada
Um tom clichê na mente rock n’roll de mais um “vou-mudar-o-mundo”
... Mas o mundo a mudou, ele sugou a beleza e a pureza, e cuspiu o retrocesso
Tenebrosos acordes de verdade espargiam de sua canção preferida...
Era dia, era ferida!