PASSAR FERRO

Parece-se a escrever

o ato de passar ferro

que aquela dona de casa

executa com esmero.

No varal ela recolhe

os panos limpos e secos

e por cima do seus ombros

vai levá-los para dentro.

Separa as roupas por ordem:

camisas, calças e meias.

Saias, leçois, bermudas

as fronhas do travesseiro.

Sem tardar ela inicia

a costumeira tarefa

de retirar os amações

dos panos que sobre a mesa.

Uma a uma as roupas ficam

em sua textura correta.

E a dona de casa sorri

dando-se por satisfeita.

Igual labor é a poesia

pra quem quer ser um poeta.

As ideias que nós temos

as levamos para a mesa,

corrigindo os desníveis

que talvez por lá estejam.

Dando um retoque cá ou lá

em cada parte do verso.

Não um trabalho de ourives,

nem tampouco de arquiteto,

mas o de dona de casa:

com suor, mas com afeto.