A Presa Dupla

Execramos o que nos apraz em troca de um estômago inflado,

Mastigamos nossas mandíbulas para aniquilar

A voracidade da aptidão para qual fomos engendrados,

Somos os desdentados dos nossos próprios sonhos,

A fome da alma é zelada, advertida pelo conforto da carne

Que saciar-la é barganhar com a miséria,

Os anseios só são mitigados pela multiplicação

Do avaro verme capital que devora sua singularidade

E o torna vassalo de improfícuos banquetes

Dilatando nossos corpos com o propósito

De nos tornarem banquete para os vermes

Abrolhados pela própria constituição carnal;

Assim o adorno de um sonho é mutilado

No moinho dos deveres e sucessos artificiais,

Nevando pétalas de frustrações estilhaçadas

No jazigo frio de um desejo cadente,

Extinguindo o fremir de uma alma

Antes mesmo de o corpo cumprir

Sua inevitável finalidade de presa.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 13/07/2013
Reeditado em 24/07/2013
Código do texto: T4384679
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