A Presa Dupla
Execramos o que nos apraz em troca de um estômago inflado,
Mastigamos nossas mandíbulas para aniquilar
A voracidade da aptidão para qual fomos engendrados,
Somos os desdentados dos nossos próprios sonhos,
A fome da alma é zelada, advertida pelo conforto da carne
Que saciar-la é barganhar com a miséria,
Os anseios só são mitigados pela multiplicação
Do avaro verme capital que devora sua singularidade
E o torna vassalo de improfícuos banquetes
Dilatando nossos corpos com o propósito
De nos tornarem banquete para os vermes
Abrolhados pela própria constituição carnal;
Assim o adorno de um sonho é mutilado
No moinho dos deveres e sucessos artificiais,
Nevando pétalas de frustrações estilhaçadas
No jazigo frio de um desejo cadente,
Extinguindo o fremir de uma alma
Antes mesmo de o corpo cumprir
Sua inevitável finalidade de presa.