O POEMA
O poema mal nasce
Tem os ossos ainda frágeis
Versos, pássaro sem asas
Indefeso
Carne fresca
Quarando nos varais do tempo
Longo é o seu caminho
Para crescer, ele terá
Que curtir-se no sal
Passar pelas mãos das estações
Pelas fases da lua
Pelos nós das mudanças
Terá de dormir no relento
Banhar-se nu no lago profundo
Reverenciar as estrelas
Cruzar os campos da alma
Enfrentar o alheamento
Terá que navegar pelos mares de silencio
Das estantes e do esquecimento
E passar pelo vergaste dos ventos
Um dia talvez
Depois de um eclipse obscuro
Que sabe ressuscite
Sabe-se lá como
Por entre veias
E tristezas
Na busca da imortalidade
Nos olhos e corações do futuro
Se houver corações!
Se houver futuro!