Lágrima entardecida
Se calo, o silêncio preenche o quarto
como mormaço de inverno
minguando o verde, secando o solo quente das plantas.
Se falo do gosto amargo das circunstâncias,
se trago a mim mesma entre um e outro cigarro insosso,
é pra digerir a frieza intragável dos protocolos.
Ainda há melancolia no final da tarde
camuflada na hora de aguar as plantas
disfarçada na chuva fina.
Busco refúgios e ressalvas
no sono inocente, no hálito doce
num último propósito, que afinal não existe.
Talvez já seja Janeiro
e eu não saiba.
Perdi-me em alvoreceres e ocasos.
Revela-se na (des)humanidade
a detestável imundície, tal qual panos de pia
Acaso não sabem que mentiras não curam?