A FESTA DAS PALAVRAS

De vez em quando a capa do austero dicionário

Se entreabre devagarzinho

E alguma delas olha

Se relaxou a vigilância do senhor gramático

Em caso positivo

Ela acena às outras para que a sigam

E assim elas escapam sorrateiramente

Para uma terra misteriosa

Um cais, situado entre o cosmos e o caos

Livre do império da sintaxe e da morfologia

Às vezes outras, de outros dicionários

Lá aportam, como o notório senhor Love

Internacionalmente conhecido

Vêm festejar a vida

Reunidas em gostosas metáforas ou metonímias

Algumas, tímidas, preferem dançar só

Onde as palavras resplandecem em beleza

Vejam o semblante juvenil das senhoritas feiúra e mediocridade

Vivem dando risadas

E o doutor Hemorróidas? adora contar piadas

Os grandes medalhões, como a Saudade, os Passarinhos e o Amor

No mais das vezes se calam, degustando um canapé

Deixam a festa pros meninos

Muitas que

Nem aparecem no ordinário dia a dia

Foram esquecidas com a extinção das paisagens

Destacam-se aqui

São muitas vezes centros de atenções

O jovem martírio flerta com a alegria

Longe da caretice prosaica

No meio da algazarra dos latins, tupis e nagôs

Todos os absurdos são permitidos

Depois, cansadas, as palavras

Extenuadas por tanta falta de chão

Tem que retornar para a ordenança

Cada uma delas toma o seu lugar

No infinito beliche do abecedário

E de manhã cada uma posa de santa

Enviado por Jimii em 24/01/2010