Os carros

Caminhando pelas ruas da cidade

Me confundo com o vazio dos carros

Nessa louca imensidão

Tão ambígua em que me encontro.

Os mendigos deitados nos cantos das ruas

Pedindo esmola para se manterem

As pessoas andando sem ver as coisas ao seu redor

O coração pulsante, verdadeiro de uma cidade.

Faço parte deles, sou apenas mais um

Me misturo com muita facilidade

E passo despercebido perante a multidão,

Que está tão só quanto os carros.

Peço uma carona, do sinal pego um ônibus

A vida se tornou tão corriqueira desde quando?

Nem percebi o sopro da evolução me arrastar

Me transformando em mais uma máquina.

Banido e sem respeito,

Tudo que vejo é meu reflexo nos espelhos

Que cercam a nossa cidade

Cercam o nosso redor.

O sol refletido parece ainda mais forte

Nosso suor escorre pelas mãos

Assim que pagamos a primeira prestação

Ainda sim, orgulhosos por nos endividarmos.

Desde quando a vida se tornou tão corriqueira?

Desde quando percebo que não percebo mais nada?

Desde quando vivo essa vida imposta

Desde quando me deparo com essa resposta?

Talvez uma solução venha a cavalo

Ou cercada por um carro blindado

Cheia de fuzis e olhares dilacerados

A esperarem por outra saída.

Quem sabe a morte venha nos buscar

E a pergunta que fica é quem vai lembrar

Que um dia você já existiu fora de seu lar.

Descarte seus pais, eles não se esqueceram de você.

Assim como você deve se esquecer deles.

Provavelmente nem todos,

Mas amanha, os falsos escolhidos

Se recolheram de medo e desilusão.

Você escolheu sua vida

E se hoje você está a caminhar e a se misturar

Com os carros da cidade

Ninguém pode fazer nada para mudar isso

A não ser você.

Vá e caminhe em outra direção

A constância é o que nos desanima

E sem percebemos

Estamos constantemente desanimados.

E por isso você se misturou a tinta dos carros.

Finja então que você - eu, nunca pensou isso

E que esse momento de introspecção

Foi apenas um sonho louco.

Que está prestes a terminar

Quando o relógio tocar pela manhã

E você - eu tomar seu café apressado

E ir se misturar aos carros que nós dirigimos

Desde quando a vida se tornou tão corriqueira?