As vezes nosso melhor amigo é uma folha em branco.
Ela se cala, quando pensamos.
Tony Bahia
Enquanto é tempo
Não quero ver ninguém!
Não vale a pena!
Quero ser um extra-terrestre,
Neste planeta de quimeras!
Ser amante das primaveras...
Enquanto sonho.
Ser o adubo que aduba a planta!
O vento que move as águas dos rios!
As pedras dormindo nas montanhas!
O pão, o trigo que sacia a fome!
O por-do sol, no horizonte!
Plantei os olhos na magia de querer ser outro
E observo-me atento e, ao mesmo tempo,
Alheio a tudo que de mim depende.
Sou constelações...
Dou-me o direito de sê-lo ao menos em poesia
E navego nos sonhos espaciais
E converso com estrelas
Beijo a Lua e ela fica corada
Não sabia que a Lua era tímida...
Por isso está sempre pálida.
Ocupo o ócio que as vezes me surpreende,
Escrevendo!...
E olhando as paredes sem quadros, nos céus da vida,
Sem adeus nem despedida, colho nuvens...
Ao mesmo tempo, observo reles-seres
Que passeiam feito formigas...
No duelo de colocar o pé na frente
E puxar o tapete...
Farto desse caminhar repugnante,
De sol a sol, de dor a dor.
E farto, do fardo-fútil-inútil
Desenganado do dia.
Claridade sem perspectiva,
Pincel que não exprime o artista,
Roteiro que não dá luz ao personagem,
Voz que teve o eco sucumbido pelo tempo,
Escritor que não tem história,
Livro sem páginas,
Menino sem infância,
Poeta sem poesia,
Papel em branco.
Lápide.
Lápis.
Lírios
E cílios
Se fechando para dormir, enquanto é tempo.
Rio de Janeiro, 1988
Tony Bahi@.