Amargos Desejos
Dentro dos olhos,
Queria a imagem de tudo o que existe,
Como quem possui e absorve
Como quem nunca foi triste!
Desejo de possuir e guardar
Como se fosse possível
Abraçar tantas coisas
Em uma só vida!
Queria todas as flores,
Todos os pássaros,
O céu e as nuvens
Que com o vento, passavam...
Queria agarrar entre os dedos,
Segurar sem soltar...
Esquecia-se do medo,
Dos dias escuros
Em que só a luz bastaria!
Fugindo da própria noite
Escurecendo o dia,
Achando que as pedras e pilastras,
As fontes, os rios, as casas,
Os livros, as terras, as palavras
Salvar-lhe iam
Das garras do nada!
E as esperanças alheias,
As vidas alheias,
Pisoteadas
Nas calçadas amargas!
Queria ter, possuir, selar,
O fogo, a terra, a água, o ar,
Que nunca seriam o bastante
Para conter tanta agonia!
E a pequena criatura
Que sob o sol, se movia,
Tentando apenas viver,
- Pisoteada!
Em meio a tanta amargura
Sob botas tão pesadas!
Ah, nada é o bastante
Para quem, o tudo,
Transforma em nada!