Ponto de Apoio
Quando me despedi naquela noite
Despi-me de sentimentos.
Decerto, por alguns momentos perdia-me.
E era quando eu mais me encontrava.
Sob a noite fria, que encontrei no cerrado
Eu, sozinho, naquele ônibus lotado,
Seguia-me
Tal qual a estrada e o céu estrelado. Indo atrás dos meus elementos,
Fragmentados, inertes.
Era um lugar estranho, diferente
Tinham moças espalhadas pelo caminho
Alugavam-se: Para motoristas solitários, sádicos, sem alma
Doentes
De espírito;
De corpo;
De existência.
Testemunhei pais, filhos
Vendiam-se em um país onde tudo está à venda:
A decência;
A ousadia;
A necessidade;
A fome.
Vi o que não queria ver. Não enxerguei o que meus olhos clamavam
Atenção,
Pare, siga, ande, volte,
Desista!
Eu não desisti.
Vi nessa estrada que eu não conhecia,
E que jamais conhecerei,
Vi rostos bonitos,
Praias rebeldes
Natureza viva e morta
Torta, dadivosa. Vi e desejei
Fotografei.
Que pena que estes dias de viagem
Transformaram-se em resumo num papel:
E agora o papel acabou
Eu parei de fugir
A estrada findou
A viagem desembarcou, trouxe-me aqui
A hora de retornar
Dias na estrada
Que se não valessem de nada
Pelo menos me fizeram suspirar. E viver...