POETA, SER ESTRANHO
Não pode ser poeta se és feliz
O sorriso não cabe na poesia
Nem a felicidade
A poesia é terreno áspero, escuro
Mora nos olhos da tristeza
E tem a alma coxa que sai do silencio
Só para falar das sombras
E dos sentimentos machucados
Ou afogar-se numa gota de pranto
Porque desconfia do destino
O poeta lambe as feridas
E sonha!
E embora a semente do amanha
Lhe habite
Tem o habito de desacreditar
No que os olhos mostram
Para entregar-se
Aos devaneios!
Tudo sente e por sentir é triste
Se não sentisse, seria triste também
Seus sentimentos gotejam
Num pátio abandonado
Gotas de solidão e de uma dor imaginária
Que só ele sabe existir
Abre os olhos
Como se fora a primeira vez
Para os desejos inconfessos
Ser estranho, o poeta!
Arde de um amor
Que não pode ter
Dá um amor que não é seu
Anda pelas veredas
Das estrelas
Tua matéria é a vertigem
E os espasmos ancorados
No seio movediço e incerto
Das palavras!