Catacumbas d'Alma
Aos guerreiros que ousam descer às
catacumbas do próprio ser, e encontrar-se
com suas próprias verdades, das mais
belas às mais temidas...
O tempo borda mais uma renda negra, serena e fria
Tudo em paz nessa noite, até o cerrar das pálpebras
Pois quando se desce a cortina dos olhos,
Se desce às catacumbas d’alma...
Hoje deparei-me com o Outro Mundo, ardendo-se em chamas
O Mundo-de-Dentro, esse reino estranho e infinito
Arde nessa noite, e o som é o de vidros a estilhaçar-se
Roma está em chamas
Um poeta passeia numa praça, tranqüilo, em sua sabedoria e poesia
Enquanto tudo a sua volta se destroça
É meu mundo que cai, é a luz que se vai
É a escadaria que se esvai,
De meus pés, e já não posso subir,
Já não posso subir para a superfície d’alma...
Não sabia o que encontraria ao descer:
Eis que o Vesúvio acordou, e está em plena erupção
Na sacada de um casarão antigo,
A Dama-Sabedoria, vestida de negro, mostra-me o punhal em riste
Tapo os ouvidos, não ouso e não posso ouvir seu canto,
A ecoar-se por todo o vale, fazendo-o tremer
Ela canta, e faz recitais, de verdades que choveram ali
Verdades que caíram do mundo de cima...
Ela colheu cada uma delas, juntou-as, e ora faz seu recital
Seu canto dessa noite, escrito pelo poeta que ali passeava,
É catastrófico
De tão belo, assusta
De tão intenso, choca
E em pleno mundo em chamas, congelo!
Sangue petrifica-se, corpo e alma agora são geleira
E o barulho que assombra o vale agora é o de minh’alma geleira
A estilharçar-se
Abro os olhos, tudo em paz a minha volta
Na superfície, o mesmo rosto no espelho
E o dia cheio de compromisso, aparentemente um dia normal
No subterrâneo d’alma, o Vesúvio parece acalmar-se
E Roma, está desolada...
Caído o Império, restam escombros
Amanhã, começo as buscas
Pelos meus pedaços-estilhaços
Hoje, só quero dormir
Entre gelo, chamas e escombros
Amanhã, recomeço...