Vontade dos instantes
O silêncio num instante
E tudo que é real se dissolve:
Entram em cena as vontades.
Vontade escrever,
Numa carta,
Um desabafo enlouquecido -
Pausado apenas pelas lágrimas.
Vontade de escrever uma carta
Naquela porta tão inerte
Que vejo ali.
Escrever ardentemente cada palavra -
Cada palavrão do momento -
Até esfolar a textura lânguida da porta!
Vontade de escrever coisas no vento!
Se aqui eu permitir um descuido,
Acabo furando esta folha inerme
Perante os meus pensamentos incontidos...
Inusitados dizeres,
Quero gritá-los ao maior dos silêncios.
Pitorescas razões,
Quero afugentá-las dos meus nervos!
Vontade de bater a porta com força -
Até rachar a parede.
E, depois,
Ver se há, atrás da porta,
Algum sorriso sussurado
Que me deixe bêbado
E que me roube a memória
De todos os instantes indissolutos.
Falsas crenças são tão reais
Nas roscas férreas do silêncio!
Cuidado, Innocencio!
Vais rasgar a folha...
Vontade de dizer "eu te amo"
Ao ferro que inexiste
Nas coisas de madeira
E vontade de dizer "boa noite"
Ao sol...
Vontade de esquecer tudo
Tendo a lembrança de tudo
Neste momento que é nada.
Nestes versos, em que cada verso,
Nasce de uma lágrima falada
Ao silêncio sonoro do Universo!
Cuidado, Innocencio!
A folha vai rasgar...
Ah! Que rasgue
As formas carnais desta folha -
Sendo assim dilaceradas
As ânsias deste instante indefinível!
Olha! Que coisa...
Eu quero a calmaria das ruas
Esmagadas pela turba frenética...
Eu quero a solidão tranquila das ruas
Quase sem espaço de rua...
E só vejo uma selva de pedras!
Vontade de ser indiferente
Ao entendimento das coisas incompreensíveis...
Tudo tem uma frequência certa
Para acontecer...
Todo som tem a vibração certa
Para ser tido como perfeito.
Vontade de ser um eu diferente
Sendo o eu que sempre fui...
13/03/2013