Insensatez
A chuva que no sul do mundo entrou pelo sul,
Caminhou, está no centro do Rio Grande do Sul;
Seu umbroso semblante é disfarce da graça,
Só um cenho cerrado que em instantes passa,
Fazendo belo o lugar ao sol, sob um céu azul...
Minhas flores sorriem muito do chiste que traz,
E as hortaliças também entendem sua piada;
Ervas daninhas em sua intromissão pertinaz,
Desfazem a capina, mas , o braço logo refaz,
Custa um pouco, mas, é como se não fosse nada...
Ah se o solo da alma que bebe alento e saber,
Não se amoldasse a um prolongado estio;
Fizesse a dança da chuva, ou orasse pra chover,
Enfim, que não tendo ao menos soubesse não ter,
A juntasse alguma lenha, para a estação do frio!
Se importasse com o joio que se mescla ao trigo,
Que segundo a Bíblia, é semeadura do diabo;
Não tivesse engano, ou o parco vício como amigo,
Se incomodasse ao nascerem sementes do perigo,
Pusesse cabo na enxada, e mãos resolutas no cabo!
Assim segue nossa insensatez ganhando cancha,
Nos justificamos por haver outros que são piores;
Que vale em onda alheia equilibrar minha prancha,
Ou, o zelo remover presto, às pequenas manchas,
Enquanto a omissão repousa, sobre as maiores....