Meus Desertos
Dias longos,
Grandes espaços marcados de passos
Áridos, quentes, abertos,
Noites frescas e ventosas,
Areias e rosas,
Sangue e esqueletos.
São assim, os desertos
Por onde me perco.
Há poucos oásis,
E no céu,
A lua tem cinco fases
(A última, sempre mais negra)
A saudade é uma nesga
De escuridão sob o sol.
Há cactus, espinhos e cobras
-Mas há as rosas,
Lembranças finas, vaporosas,
Que em tranças se estendem
Pelas dunas sinuousas.
São assim, os meus desertos,
Povoados de fantasmas,
Anjos decaídos
Demônios que me tentam,
E se encolhem, sofridos a um canto
Quando eu não os escuto...
E por pura piedade,
Eu às vezes olho para trás
E os ouço, por segundos.
São assim os meus desertos,
Luas, oásis, serpentes,
Anos desfeitos em segundos,
Uma sede remitente,
Sombras de cactus e versos
Bem no meio do mundo.