Quando escrevo

 
 
Quando escrevo, esqueço
De mim no tudo ao redor.
Quando escrevo, adormeço
Para então enxergar melhor.
Quando escrevo, meus olhos
Vêem nos torpes abrolhos
A alma com sede e suor.
 
 
Quando escrevo, doce mente
Viaja livre ao Infinito.
Quando escrevo, gentil gente,
O silêncio expressado num grito.
Quando escrevo a realidade
Com muita veracidade
O ouro vira granito.
 
 
Quando escrevo, sou complexo,
Indagador, rude e cruel.
Quando escrevo sem nexo
O vinho transmuta em fel.
Quando escrevo o amor
De certo, revejo o labor
De Osíris e Ariel.
 
 
Quando escrevo o mundo,
Procuro por demais detalhes.
Quando escrevo o profundo,
Mergulho nas milhas, milhares.
Quando escrevo as flores
Lembro-me dos odores
Do Jardim de Shiva nos ares.
 
 
Quando escrevo a natureza,
Vejo na criação e seus autores.
Quando escrevo a beleza,
Penso nos mundos de amores
Quando escrevo o sofrimento
Às vezes falta argumento.
Para expressar grandes horrores.
 
 
Quando escrevo a tristeza,
Ouço a gota da lágrima que jorrou.
Quando escrevo a pureza,
Sinto o amor do amado que amou.
Quando escrevo o momento,
Lembro-me o argumento
De que estou naquilo que sou...
(19/10/1996)