O milagre de viver
Eu não tenho o paladar pros vinhos secos
O carisma dos eleitos
As chances a me disputar
Não torço pelo lado certo
Não tenho meu corpo ereto
Nem o dom de me amarem
Vivo entre os desprovidos
Qualquer ruído me faz sentido
Mas não consegue me despertar
Vaso por entre os esquemas
Para não ter emblema
Que vá me identificar
Exalo o odor do povo que não tem brasão
Sinto a dor coletiva
em meio à multidão
Jogo com hipocrisia da sobrevivência
Com a harmonia da subserviência
Por conveniências ocasionais
Testo-me recorrendo a cada instância
Sempre na esperança
De uma redenção
Ando desarmado por não andar só,
Acompanhado a dor me dói menor
Troco figurinhas com figuras mesquinhas
Aprendendo o jeito que as fez sozinhas
Amo em demasia os que me identifico
Sou dos que vinculam o ser feliz com o rico
Por que há muito pouco a perder
Não me surpreendo com os sobressaltos
Porque o paradoxo é o meu ponto alto
E porque já considero milagre viver...