COMO É ESTRANHO FAZER POESIA
contar uma história que não é minha.
dizer tudo de uma forma
como nunca falei.
Lançar leis universais,
conclusões absolutas, idéias gerais,
como uma catapulta forte
que tivesse de fato alguma força.
falar como se fosse
ser escutado por algum oráculo...
ou por todo mundo ou por ninguém.
ou por alguém que só sendo eu
para desvendar o que escondo.
falar como um grego, alguns gregos,
algum grego ideal.
algum grego tal que seja de fato irreal...
usar conjugações em pessoas
que não são convencionais,
subverter a lógica gramática
dos símbolos, maiúsculas e sinais*.
metaforizar e referir-me a coisas
da natureza que nem ao certo sei
o que são realmente,
porque pouco ou nunca lhes convivo.
esconder as palavras que
normalmente sairiam da boca
numa conversa franca de verdade.
mas poesia também é o que se quer ser,
o que nunca se foi nem se será
por maneira outra que não ela mesma.
Que alegria me dá a redundância
na frase anterior!
E sem essa alegria, vontade,
na verdade não teria escrito 36 versos
sabendo ao fim chegaria
ao que já pensava antes do início.
Poesia é virtude e vício.
*[grafar frases sem maiúsculas e sans-serif.
uma elegância sem razão, infundada!
que algo aqui,
em mim, busca
no tamanho,
organização,
e quantidade
dos versos.
na omissão de conjunções, sinais.
minimalismo patológico.]