Devaneio

Acordei com meu coração batendo rápido, com os lábios molhados e com um certo gosto de sangue, os quais afligiam meu peito. Meus olhos buscavam reconhecer o lugar onde estara, sem sucesso...

A noite estava mais escura que o normal. Olhei para o lado e pude sentir um peso morto junto a mim, debruçando-se ao meu peito. Olhei para o teto e vi um ventilador parado e me perdi em lembranças.

Quando muito bêbado encontrei um moribundo, vagando pela rua o qual declarava poesia e com um ar de apaixonado. Sentei-me junto ao seu lado e olhando-me ela falou com uma voz um pouco rouca: queres saber sobre teu futuro? Então vou contar-lhe uma velha historia de ódio e amor.

Um homem vistoso, poderoso e com um poder de ilusionista, abala o coração de jovens apaixonadas, que sonhavam com um príncipe encantado, motivado pela necessidade de possuir. Seu nome, Don Juan, sem coração, nem brilho nos olhos, culpando as sombras do passado e jurando vingança ao mundo.

O homem sem sombra um dia conheceu uma garota qualquer, a qual jurou despedaçar-lhe o coração, ela sorria e a bela bailarina dançava e rodopiava pelos seus pensamentos mais sórdidos e por um sorriso bobo, apaixonou-se e deu-lhe seu coração.

Os pais da bailarina juraram que matariam os dois se continuassem, acho que a pobre menina não notou o ato que tinha feito e simplesmente se foi. No final das contas Don Juan perdeu sua alma para uma Julieta sem coração.

No olhar um Romeu corrompido, com o poder da ilusão, como um fantasma da opera, mas agora com a maldade de um ‘ irmão do homem da mascara de ferro’.

Acordei do meu devaneio e vi uma garoa fina na janela. A escuridão tomou conta ao meu redor, o tempo já não faz diferença quando estou perdido no espaço. Vou vagando e vejo todas as luzes da cidade apagadas. Meus olhos negros sem pudor refletem o desespero que me habita. Sinto vontade de rasgar minhas vertes, e gritando ao céu digo: “o que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva” “ ponho-me a prova que deixarei de ser um tolo com receios e juro-te medo, amarei, viverei e jamais perderei minha essência de ser sempre jovem e sorridente”.

Notei que a tal historia de Don Juan ou Romeu abandonado era apenas meu conto de vida, e que o velho moribundo, no entanto, sou eu no espelho em meio a fleches de êxtase, em minhas muitas mascaras as quais são jogadas e espalhadas entre lagrimas e gritos por toda a minha essência.