AROMAS TEIMOSOS

Que estranho receptáculo aromático tenho nas mãos

Um pequeno frasco de intrigante fragrância que teima em se fechar

Quando penso que seu cheiro vou sentir

Sua tampa encerra-se na mais firme teimosia

Ah! Mas que vontade de partir

Nas mãos tenho outras fragrâncias

As roupas guardam a lembrança de outros perfumes

Alguns fortes e hipnotizantes

De vidros que nem lembro onde deixei

Mas destes aromas não quero os ácidos que irritam o olfato

Tampouco os fortes doces enjoativos que me causam asco

Prefiro aquele estranho e teimoso frasco

Cuja tênue essência beira um efêmero eflúvio de recato

Este frasco é manhoso

Afrouxa sua tampa quando penso em desistir

E a fecha com força ao me ver tentar abrir

Mas como gosta de brincar!

E agora deve estar a sorrir!

Ou está a chorar?

Porque apenas não me deixa sua essência cheirar?

Mas tenho medo de cansar, de tanto teimar

Um dia essa fragrância não mais me interessar

De seu cheiro não resistir aos ventos do tempo

E com o ar se dissipar