A água no rosto

A água molha meu rosto
Com suavidade saudosa
E a poetisa que não sou
Acorda e soluça muda.

A acidez do tempo marcou
Com angústia o meu rosto,
A cortina que não esconde
E nada oculta fechou-se

A mão em concha
afaga o rosto, sem brilho,
molhado, que reflete a luz
do espelho impiedoso.

A água molhou meu rosto
No tempo justo de amar
No tempo justo de idéias...
No rosto... claridade de outono.

A água secou, minha mão
Baixou, apalpei-me inteira
Queria saber se vivia ainda
E no escuro brilhou a luz.

A carne enrugou, amoleceu
Mas o mistério continua
Claro e latente como antes
E a memória está lúcida.

Conta ainda uma bonita
História de amor e vida
E uma triste melancolia
Se apodera de min’alma.

Os sentidos todos me olham:
O choro rompe o silêncio
E na moldura do espelho
Aparece a mulher de agosto

Estou diante de mim mesma
Um ser capaz de ainda rugir
Na suntuosidade dos anos.
Olho o espelho,o rosto seco.

Agradeço e peço à Deus
Que abençoe a vida que resta
Com flores amarelas
E estrelas de festa.