As entrelinhas permanecem
Tenho uma cisma constante com o papel
olho cadernos decorados em preto e branco
outros mais opacos, mas que encantam
e pequenos ou grandes os outros vão levando
Organizados por matéria
cada um em quantidade certa
mas mal distribuída para minha necessidade
que não se conforma em mantê-las em encadernadas
E as linhas quem são? a minha razão?
a construção organizada da minha compreensão
ou a tentativa renovada a cada espaço
de debater a minha frustração?
Não sei porque, mas acho que sei
as linhas organizam o curso das palavras
se digo algo relevante ou nada com nada
elas irão fazer a sua parte, qualquer que seja a arte
E sinceramente te digo
prefiro folhas sem pautas
pois crio rascunhos livres de regras
nada que uma seta não resolva, pra mim é festa
Levar 500 páginas do lado esquerdo do peito
numa pasta embaçada, que não se vê direito
parece-me ilógico, e, até tóxico
para os braços um fardo, um ócio
Mas insisto exaustivamente em libertar
separa as folhas úteis das que efetivamente irei usar
não que as outras sejam descartáveis
apenas não carrego coisas sem necessidade
Será a idade que atola
lembranças do colégio
montanhas de livros nas costas
e mais um caderno de notas
E mudei-me para o fichário
com um estoque de folhas claro
apenas o necessário para ser usado
mas isso foi no passado
Hoje uso folhas A4
posso amassar, dobrar, recortar
pois a forma sou eu quem dou
e não há limites para a escrita e nem cor!
Mesmo assim, entrelinhas permanecem
não precisa timbrar seu modo caligráfico
basta observar o que acontece
pois até uma marca no papel, por se só já se descreve!