Apêndice

Às vezes até servimos salvas de dores,

Não porque destas buscamos o sumo;

como pintar um arco íris com duas cores,

Preto, branco, só com essas, me arrumo;

Que vale um coração destro pra flores

Quando recebe pedras como insumo...

Difícil optar entre o silêncio e o barulho,

Pois, hão de trazer a mesma mensagem;

sobre posses da alma furtadas, esbulho,

o que valem agora, as armas e o pajem?

Coisas boas aprisionadas sob o entulho,

E não há um martelo para estourar a laje...

Reincidência cansa qual lata na goteira,

E esse gotejar sempre soa, a amolação;

Feridas, não se deve fazer por brincadeira,

Nem justifica se abonadas pela paixão;

Quando integridade fura é pura besteira,

Tentar vedar com a rolha da adulação...

De pedras dizem, se constrói uma escada,

Filosofia ofertando seu parco conforto;

Ante a fome não se come porções de nada,

Quem vê não chama de reto, o que é torto;

uma vez, chamaram Estevão na pedrada,

E a Bíblia diz que o diácono acabou morto...

Não se viu liberdade com placa de vende-se,

Mas muitos ouviram choro quando perdida;

Certas restrições que às vezes nos prendem,

O sine qua nom da liberdade estabelecida;

Quantos precisaram extrair um apêndice,

Para poderem preservar a própria vida...