Na Contramão
Pensamento estranho enquanto passa toda a massa
Manhã estranha, passos na mesma direção
Ou estranha estou eu? Indo ao contrário?
Estranhos pensamentos de falta ou de resto
Ou é a vida que tão breve me está passando
Desapercebida diante dos olhos, apressada?
Enquanto eu, tão acostumada, vivo
Sempre o mesmo dia, vários dias seguidos
Na ilusão em que muitos vivem
De que tudo ficará bem conforme o tempo chegar
E acostumados, rotinizados só sabemos esperar
Pelos tais dias melhores
Mais um rosto na multidão disforme
Não quero, não posso ser apenas mais uma face
Desconhecida, igual, tão plural, tão possível?
Eu não, eu quero a eterna novidade!
Caminhar na contramão dessa massa
Capitalizada, alienada ao ter e não ao SER
Quero apreciar os dias, ver a alvorada das manhãs sem pressa
Amar sem ter hora marcada
Sonhar sem ser chamada de tola
Quero meus dias inteiros! Momentos à sós comigo
Pra depois querer gente, barulho, bagunça
Quero sorrir de alegria, chorar sem ter que dizer porque
Amar na beira do mar. Caminhar na orla da praia
Assistir a lua crescer, o sol alvorecer
Escrever realidades, viver fábulas e poesias
Adormecer, pelas tardes fagueiras, nos braços de quem me ame
Quero apenas viver!
Um dia de cada vez
Cada cheiro, cada gosto
Sem pressa, sem medo, de que tudo se torne em vão
Quero sair dessa roda viva
Caminhar devagarinho sem tristeza pelo que ficou
Ter pelo que lutar, uma ideologia, uma filosofia
Que dê sentido a tudo isso
Issos tudo, issos todos
Antes que acabem os meus dias!